Tudo que você queria saber sobre a tabelinha

Guia definitivo sobre o método da tabelinha, que é frequentemente usado para evitar gravidez, mas que pode ser usado para conhecer o próprio ciclo menstrual e para aumentar as chances de engravidar.

CONTRACEPÇÃOLIBIDO FEMININA

Gisele Veiga Guimarães

7/25/20257 min ler

O que é a tabelinha?

Tabelinha é o nome do método também chamado de "Ogino-Knaus", que significa anotar em uma "tabelinha" os dias do ciclo menstrual. O principal referencial objetivo do ciclo menstrual é a menstruação, certo? É o que podemos ver. Então, a primeira coisa a se fazer é anotar o primeiro dia de sangramento menstrual. Deve-se observar se é sangramento vivo, de fato, ou se apenas suja a calcinha. Algumas mulheres sangram bem pouquinho antes de vir a menstruação de fato, e o dia que deve contar como o primeiro dia é o primeiro dia em que vem o sangramento de fato.

Hoje em dia, os aplicativos (ex: Clue) ajudam muito na anotação dos dias do ciclo menstrual, mas o ideal é entender o que estamos anotando ali, e não só dar as informações solicitadas pelo aplicativo e deixar que ele nos diga quando é a nossa fase de ovulação, período pré-menstrual e a data provável da próxima menstruação.

Para que serve a tabelinha?

Anotar a data do primeiro dia da última menstruação e ter esse controle é importante para todas as mulheres, de todas as idades, que estejam tentando ou não engravidar, e que não estejam usando algum método hormonal (pílula anticoncepcional, injeção anticoncepcional, DIU hormonal - Mirena e Kyleena, anel vaginal, adesivo contraceptivo). As mulheres que usam principalmente os métodos hormonais sistêmicos, ou seja, todos os que eu acabei de citar menos os DIUs hormonais, não têm ciclo menstrual, não ovulam e nesse caso não faz sentido fazer a tabelinha. A função dela é monitorar ciclos menstruais naturais.

É importante para conhecer o próprio corpo e suas mudanças ao longo do ciclo, saber em que fase do ciclo menstrual está, saber se o próprio ciclo menstrual é regular ou não. E anotar a data da última menstruação pode ser útil até na eventualidade de alguma emergência médica (para saber qual é o risco ou suspeita de gravidez).

Quais são as chances de falha da tabelinha para quem quer evitar engravidar?

Na população estudada observamos que a cada 100 mulheres usando esse método para evitar gravidez, 23 engravidam a cada ano. Um número muito alto considerando que o objetivo seja não engravidar, certo?

A tabelinha pode ser usada por mulheres que estão evitando a gravidez (evitando relações sexuais nos dias "inférteis"), assim como por mulheres que estão tentando engravidar (tendo relações sexuais principalmente nos dias mais férteis).

Para as mulheres que estão evitando a gravidez, todo o cuidado é pouco, pois uma gravidez não planejada muda tudo na nossa vida, certo? Então ela pode ser usada apenas por mulheres que têm ciclo menstrual extremamente regular. Não é o método mais eficaz que existe (é um dos menos eficazes nos estudos populacionais, pois depende principalmente da regularidade do ciclo menstrual - que pode ficar irregular de um dia pro outro, certo? - e depende de ser feita da forma correta pela usuária; é um método que exige disciplina maior até mesmo que a pílula anticoncepcional).

A tabelinha pode falhar por erros nos cálculos, por esquecimento ou confundimentos dos dias mais ou menos férteis e por irregularidades eventuais do ciclo menstrual (mesmo na mulher que sempre teve ciclos menstruais ele pode mudar de um ciclo para o outro e não temos como prever isso).

Muitas mulheres usam esse método por motivos religiosos e culturais, por não quererem usar nenhum método anticoncepcional. As mulheres que não têm motivos religiosos para pensar na possibilidade de usar a tabelinha, e que realmente não desejam engravidar, devem conversar bastante com um(a) médico(a) ginecologista sobre todos os métodos contraceptivos que existem, sobre seu desejo de engravidar e em que momento da vida desejam engravidar, ou mesmo se não desejam engravidar, para chegar ao melhor consenso sobre qual é o melhor método para si. Existe muito mito e preconceito contra diversos métodos contraceptivos (há quem acredite que pílula engorda e que DIU é perigoso, entre outros mitos, embora nada disse seja verdade). Há também quem acredite em certas contraindicações de certos métodos que não são reais. Por exemplo, algumas pesaoas acreditam que adolescentes e mulheres jovens e que nunca tiveram filhos não podem usar DIU, o que não é verdade - na verdade o DIU é um dos métodos mais indicados para mulheres jovens e adolescentes (devido a sua alta eficácia e independência da disciplina da usuária).

Novamente, antes de pensar em usar apenas a tabelinha como método para evitar uma gravidez, é importante conversar com médico(a) especialista no assunto para descobrir se de fato há contraindicações aos outros métodos. Na minha experiência, é muito incomum haver contraindicação real a todos os outros métodos que existem. A preferência individual da mulher é um dos fatores mais importantes para escolhermos um método, mas é importante sempre enfatizar que a eficácia da tabelinha para evitar gravidez é muito variável e depende do ciclo menstrual e da disciplina da usuária e do parceiro.

Como fazer a tabelinha, na prática?

Aplicativos ajudam nesse cálculo, mas ele também pode ser feito à mão, por você mesma.

A primeira coisa é saber o primeiro dia do sangramento menstrual, que é o primeiro dia do ciclo menstrual. É necessário saber o primeiro dia dos últimos 6 a 12 ciclos, idealmente.

O próximo passo é calcular o número de dias que tem o ciclo menstrual nesses últimos 6 a 12 ciclos. Ou seja, calcular quantos dias existem entre o primeiro dia do ciclo e o último (que é o último dia antes do primeiro dia do próximo sangramento).

Observar qual é o menor ciclo (o com menor número de dias) e o maior ciclo (o com maior número de dias).

Faça a subtração do número de dias do maior ciclo e do número de dias do menor ciclo. Caso o resultado dessa subtração seja um número igual ou maior que 6, a tabelinha não deve ser considerado como método para evitar a gravidez no seu caso, pois o seu ciclo não é regular o suficiente para isso (há uma variação grande demais na duração dos seus ciclos menstruais). Caso o resultado da subtração for menor

Caso o resultado dessa subtração seja menor que 6, vamos ao próximo passo.

Devem ser feitos dois cálculos:

O número de dias que tem o menor ciclo menos 18 = número do dia do ciclo menstrual no qual começa o período fértil.

O número de dias que tem o maior ciclo menos 11 = número do dia do ciclo menstrual que é o último dia do período fértil (incluindo esse dia).

Para evitar uma gravidez é necessário não ter relações sexuais do dia no qual começa o período fértil até o último dia do período fértil (incluindo esse dia).

Vale observar que o "período fértil" é um período bem extenso, certo? Então, é necessário ficar sem ter relações sexuais (ou usar preservativo) durante grande parte do ciclo menstrual para evitar gravidez.

Quais são as fases do ciclo menstrual?

O ciclo menstrual pode ser dividido em algumas fases, cada uma durando alguns dias. Quando menstruamos inicia-se a fase folicular, que é seguida pela ovulação. Após a ovulação inicia-se a fase lútea (ou secretora) e após essa fase menstruamos novamente.

Por que chamamos a primeira fase de "folicular"?

Nessa primeira fase do ciclo menstrual, que inclui o período do sangramento menstrual, os ovários começam a sofrer estímulo hormonal para o crescimento dos folículos. Os folículos são bolinhas com líquido dentro e que possuem uma estrutura que pode virar um óvulo (caso amadureça o suficiente). Esse estímulo hormonal tem como objetivo transformar essa estrutura em um óvulo. O objetivo de tudo isso é levar a uma gravidez com a fecundação desse futuro óvulo por um espermatozoide caso aconteça uma relação sexual com ejaculação dentro da vagina e sem preservativo ou sem outros métodos que evitam a gravidez.

O que acontece com o nosso corpo nas fases folicular e ovulatória?

Muitas mulheres que não usam métodos hormonais (como a pílula e os outros citados acima) notam que se sentem mais dispostas, com mais energia e maior libido durante as fases folicular e ovulatória (que vem logo após a fase folicular). Essas fases, que são, a grosso modo, as duas primeiras semanas do ciclo, são as que têm a maior chance de engravidar em caso de relação sexual desprotegida (com ejaculação dentro da vagina, sem camisinha e sem outros métodos que evitam gravidez).

O que acontece com o espermatozoide no corpo da mulher após a ejaculação?

O espermatozoide pode durar (vivo) até 5 dias após a ejaculação no corpo da mulher (com média de sobrevivência entre 48 e 72 horas, ou seja, 2 a 3 dias). Essas informações são de grande relevância, porque é possível engravidar mesmo tendo relação sexual menstruada ou na fase folicular.

O espermatozoide normalmente chega no local da fecundação em menos de uma hora e pode ficar lá esperando por até 5 dias. É aí que entra a função da pílula do dia seguinte. A pílula do dia seguinte funciona principalmente retardando (atrasando) o acontecimento da ovulação (liberação do óvulo fecundável para que o espermatozoide gere um embrião). Com esse atraso da ovulação, a pílula do dia seguinte dá mais tempo de os espermatozoides se tornarem inviáveis (eles duram até 5 dias), diminuindo a chance de acontecer a fecundação. Também fica mais fácil de entender que a pílula do dia seguinte não é tão eficaz assim (não está nem perto de 100% de eficácia), por vários motivos: a ovulação pode ter acabado de acontecer quando a mulher toda a pílula ou quando a pílula começaria a agir no organismo, a fecundação pode já ter acontecido, já que o espermatozoide chega tão rapidamente ao local de fecundação e pode ser que o atraso da ovulação não seja o suficiente considerando a viabilidade dos espermatozoides de até 5 dias. Quando mais rapidamente for usada a pílula do dia seguinte após a relação sexual, maior é a sua eficácia (e mesmo assim a chance de evitar uma gravidez não é 100%, e por isso chamamos a pílula do dia seguinte de "método de emergência". É o que pode ser feito naquele momento, mas o ideal é usar métodos mais eficazes (que previnem a ovulação com antecedência).

E na fase lútea ou secretora, o que acontece?

Essa é a fase menos fértil do ciclo menstral. Após a ovulação, a "casquinha" do óvulo vira o "corpo lúteo", que produz progesterona para manter uma eventual gravidez. Caso essa menstruação não aconteça, a mulher menstrua e todo o ciclo acontece de novo.

Gisele Veiga Guimarães | Médica Ginecologista e Obstetra | CRM 521128990 | RQE 40088