O que Ovários Policísticos têm a ver com risco de diabetes, infarto e câncer?
Você precisa conhecer a relação entre a Síndrome dos Ovários Policísticos, risco de diabetes, risco de infarto e risco de câncer. Leia abaixo!
Gisele Veiga Guimarães
8/14/20254 min ler


O que é a Síndrome dos Ovários Policísticos?
Vamos por parte para explicar essa síndrome complexa! Primeiramente, a palavra síndrome significa conjunto de sinais e sintomas.
Ovários são os órgãos femininos que produzem principalmente os seguintes hormônios: estrogênio, progesterona e um pouco de testosterona (nas mulheres em níveis muito menores que os níveis produzidos pelos testículos dos homens).
A palavra "policísticos" ou "micropolicísticos" significa que na ultrassonografia (ou na visão direta do órgão numa cirurgia ou após a sua retirada cirúrgica) o ovário tem aspecto de micropolicistos, ou seja, muitos cistos bem pequenos.
E qual é a relevância e o significado de ter ovários com muitos cistos bem pequenos? Para entender isso, precisamos entender como acontece a formação desses cistos.
Vamos lá: todos os meses, no início do ciclo menstrual, ou seja, logo após o início da menstruação, ocorre um estímulo hormonal nos ovários com o objetivo de fazer com que os futuros óvulos amadureçam. Os óvulos ficam protegidos dentro de bolinhas com líquido chamadas de "folículos" que, quando crescem demais, chamamos de "cistos". O normal é que muitas dessas bolinhas cresçam um pouco em tamanho inicialmente, mas em seguida apenas uma delas deve crescer muito mais que as outras. Nas mulheres que têm ovários policísticos, por um mecanismo hormonal complexo, muitas dessas bolinhas crescem mais que o normal e nenhuma delas cresce mais do que todas as outras, gerando o aspecto "micropolicístico". Alguns chamam isso de "sinal do colar de pérolas" - esse nome ajuda a ter uma noção visual de como o ovário fica.
E qual é o problema disso?
O objetivo de apenas um folículo crescer mais do que os outros, enquanto os outros param de crescer é a ovulação, que é a liberação do óvulo, fazendo com que a mulher entre no período fértil. Caso isso não aconteça dessa forma, a mulher não fica fértil (pelo menos não naquele ciclo), não ovula e a menstruação demora a acontecer (porque não ovulou).
Porém, não ovular e não ser fértil é apenas um dos problemas da Síndrome dos Ovários Policísticos. Como os ovários são super importantes para o funcionamento adequado do nosso organismo como um todo, incluindo uma influência sobre o útero e o endométrio (que é a camada de dentro que libera sangue durante a menstruação), não ovular e não menstruar faz com que a mulher tenha irregularidade menstrual, sangramento aumentando quando a menstruação chega, entre outros problemas que vou explicar abaixo.
Qual é a relação entre a síndrome dos ovários policísticos e risco de diabetes?
Mulheres que têm essa alteração nos ovários não têm uma doença especificamente dos ovários. Trata-se de um problema complexo e multifatorial, o que significa dizer que o problema não é só dos ovários. O excesso de insulina estimula os ovários a produzir hormônios de forma inadequada (produzindo mais hormônios como testosterona do que o normal). Com isso, ocorre a oleosidade da pele, acne, excesso de pêlos.
Qual é a relação entre a síndrome dos ovários policísticos e risco de infarto?
A síndrome dos ovários policísticos acontece principalmente em mulheres que têm o que a gente chama de síndrome metabólica, mas principalmente resistência a insulina. A resistência a insulina é o que leva ao pré-diabetes. Essa resistência acontece quando nosso pâncreas começa a produzir mais insulina para conseguir manter os níveis de glicose normais no sangue. Chega um momento em que esse esforço do pâncreas não é mais suficiente e os níveis de glicose sobem de vez. Nesse momento, podemos dar o diagnóstico de diabetes. Ter diabetes aumenta o risco de diversos problemas cardiovasculares, como, por exemplo, o infarto.
Qual é a relação entre a síndrome dos ovários policísticos e risco de câncer?
A síndrome dos ovários policísticos está relacionada à síndrome metabólica (conjunto de algumas condições que aumentam o risco cardiovascular: HDL baixo, obesidade visceral, triglicerídeos altos, resistência a insulina e hipertensão), como eu disse acima. Isso por si só já aumenta o risco de diversos tipos de câncer, como o câncer de mama. Porém meu objetivo aqui é enfatizar um tipo específico de câncer ginecológico: o câncer de endométrio.
Quando ocorre o estímulo hormonal sobre os ovários sem ovulação logo em seguida, o endométrio cresce demais e permanece "hipertrofiado" até que ocorra a menstruação (que demora a ocorrer). Permanecer muito tempo com o endométrio hipertrofiado aumenta o risco de câncer de endométrio no longo prazo, e esse é um dos principais motivos pelos quais a síndrome dos ovários policísiticos não pode ficar sem tratamento.
Qual é o tratamento mais eficaz para a síndrome dos ovários policísticos?
Dieta adequada e atividade física são a forma mais eficaz de tratar a síndrome dos ovários policísticos.
Além disso, é importante avaliar o uso de anticoncepcionais orais (no caso da síndrome dos ovários policísticos eles podem ajudar no tratamento).
A suplementação com inositol e o uso de medicamentos hipoglicemiantes (como a metformina) tambem pode ajudar em alguns casos, além de tratamentos medicamentosos específicos para o excesso de pelos.
Gisele Veiga Guimarães | Médica Ginecologista e Obstetra | CRM 521128990 | RQE 40088