Como descobrir se eu tenho uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível)
Vários motivos existem para suspeitarmos de uma Infecção Sexualmente Transmissível. Seja por ter tido relações sexuais sem preservativo, seja por sintomas como corrimentos, mudança do odor vulvar e vaginal ou dor em baixo ventre, com muita frequência as mulheres se deparam com essa dúvida: será que eu tenho uma Infecção Sexualmente Transmissível? E como ter certeza de que não há nenhuma IST?
CORRIMENTOS E INFECÇÕES
Gisele Veiga Guimarães
7/4/20254 min ler


Ter uma IST significa promiscuidade?
Ter uma IST não é um sinal de promiscuidade.
As infecções sexualmente transmissíveis são tradicionalmente estigmatizadas, o que significa que o diagnóstico pode levar, principalmente em mulheres, a sentimentos negativos em relação a si mesma.
Porém, é possível ter tido apenas um parceiro em toda a vida e adquirir infecções sexualmente transmissíveis.
O preservativo realmente protege contra ISTs?
O preservativo confere muita proteção contra ISTs. Porém, essa proteção, mesmo quando o uso é feito de forma 100% adequada, não é 100% eficaz, principalmente contra o HPV e o vírus da Herpes.
Isso acontece porque o preservativo masculino (que é o mais comumente usado) não cobre a genitália toda, mas apenas o pênis.
Tanto o vírus do HPV quanto o vírus do Herpes podem estar presentes na região da genitália que não é coberta pelo preservativo masculino (a camisinha).
Nunca tive relação sexual sem camisinha, como posso contrair HPV?
O vírus do HPV tem afinidade/atração pelas células do colo do útero. Então, é possível contrair HPV a partir do contato pele a pele da genitália (da pele da parte de fora mesmo) e o vírus trata de se encaminhar para a região onde ele prefere gerar infecção (nas células do colo do útero, embora também infecte as células da vulva e da vagina).
Então, o preservativo masculino não protege 100% contra a infecção pelo HPV, mas ajuda a manter a carga viral mais baixa.
A melhor forma de proteção contra o HPV é a vacinação contra o HPV, preferencialmente com a vacina nonavalente, mas caso a vacina nonavalente não esteja disponível, a vacina quadrivalente também protege muito bem.
Quais são todas as ISTs nas quais devemos pensar?
HIV, Sífilis, Hepatite B, Hepatite C, gonorreia, clamídia, tricomoníase, micoplasma, HPV, Herpes genital. Outras, menos comuns, são cancro mole, linfogranuloma venério e donovanose.
Vamos falar mais sobre as ISTs? Como testá-las e o que elas podem causar:
HIV
A transmissão do HIV hoje se torna cada vez menos comum devido aos tratamentos que reduzem a carga viral dos portadores do vírus. Devido à importância desse vírus a disponibilidade de testes (feitos a partir do sangue) para HIV é bastante ampla. Basta fazer um exame de sangue para o diagnóstico.
Sífilis
A sífilis é uma doença muito antiga e estigmatizada, porém até hoje (mesmo existindo antibiótico que a combate de forma altamente eficaz) são diagnosticados muitos casos de sífilis. O diagnóstico costuma ser relativamente fácil (basta exame de sangue) e o tratamento com antimicrobianos é eficaz e cura a infecção.
Hepatite B
O vírus da hepatite B é identificado por exames de sangue também. Para essa infecção existe vacina, que é recomendada para todas as pessoas e está disponível nas Unidades Básicas de Saúde, sem custo. A vacina é altamente eficaz na proteção contra a Hepatite B, porém nem todas as pessoas produzem anticorpos contra a hepatite B após a vacinação.
Hepatite C
A hepatite C pode ser transmitida pela via sexual, sendo incluída nessa lista também, porém hoje em dia a maior parte dos casos de transmissão não ocorre por essa via. Uma via de transmissão ainda relativamente comum é o compartilhamento de materiais como alicates indevidamente esterilizados em salões de beleza. Idealmente os alicates e espátulas devem ser esterilizados em autoclave da forma correta após cada uso. Uma outra forma de evitar a transmissão é ter seu próprio alicate e espátula para levar à manicure.
Gonorreia e Clamídia
A gonorreia e a clamídia são causadas por bactérias. A clamídia é mais comum que a gonorreia e deve ser pesquisada principalmente em mulheres jovens com vida sexual ativa. Hoje em dia o exame mais fácil para seu diagnóstico é a biologia molecular (PCR), realizada no consultório a partir de um cotonete estéril.
São infecções que com grande frequência não causam sintomas, principalmente em mulheres. O problema de ter uma dessas ISTs e não ter o diagnóstico feito a tempo é o risco de evolução para dor pélvica crônica, infertilidade, abscessos pélvicos, gravidez ectópica.
A pesquisa dessas infecções de forma rotineira diminui a chance dessas complicações.
Tricomoníase
Pode causar corrimento com odor alterado. Por isso, pode confundir com vaginose bacteriana com frequência, e para ter certeza do diagnóstico, apenas com testes específicos para este agente. Pode causar inflamação do colo do útero e doença inflamatória pélvica. Na gravidez também pode gerar diversas complicações para a gestante e para o bebê. Após o diagnóstico (que é mais facilmente feito com PCR no próprio consultório) o tratamento é simples, sempre com comprimidos via oral (cremes vaginais não curam a tricomoníase).
HPV
O HPV na maioria dos casos é assintomático e na maioria das infecções não leva a complicações. É uma infecção extremamente comum.
Pode ser identificado por exame feito em consultório (PCR) a partir de uma espécie de cotonete. Esse teste é a principal forma de pesquisar câncer de colo de útero e risco aumentado para esse câncer.
O câncer é o motivo pelo qual essa IST deve ser pesquisada.
Herpes Genital (Herpes Simples)
A herpes genital é extremamente comum e de tratamento simples. Não costuma causar complicações, mas pode gerar bastante dor e incômodo locais temporários durante as crises.
Quais são as ISTs mais comuns?
HPV e Herpes Genital (causada pelo vírus herpes simples) estão entre as ISTs mais comuns, acometendo grande parte da população mundial sexualmente ativa.
A vaginose bacteriana é uma IST?
Alguns estudos recentes tentam compreender se a vaginose bacteriana poderia ser classificada como uma IST. Porém, apesar de dados iniciais neste sentido, isso não é algo confirmado e consolidado na literatura médica. Então, por enquanto, não dizemos que a vaginose bacteriana é uma IST, porém mais estudos são necessários.
Com que frequência devo fazer os exames para as ISTs?
A consulta de rotina com ginecologista deve ser feita uma vez ao ano. É uma oportunidade para atualizar os exames, que podem ser feitos a cada 12 meses. No controle após a cura de uma IST a frequência de realização desses exames pode aumentar.
Gisele Veiga Guimarães
Médica Ginecologista e Obstetra
CRM 521128990
RQE 40088