Tudo que você precisa saber sobre o HPV:
O seu guia definitivo sobre HPV
HPV E CÂNCER
Gisele Veiga Guimarães
5/11/20245 min read


O que é o HPV?
HPV significa Papilomavírus Humano e compreende mais de 200 tipos de vírus diferentes. Quarenta desses tipos de vírus podem infectar vulva, vagina, colo do útero e ânus. Essas infecções podem causar mais comumente verrugas genitais e, em alguns casos, alguns tipos de câncer (que podem acometer homens e mulheres, porém com maior frequência e gravidade em mulheres). O HPV causa o câncer de colo de útero, de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe e está associados 5% de todos os casos de câncer no mundo.
Qual é a sua chance de ter HPV?
Praticamente todas as pessoas que já tiveram algum tipo de contato sexual (sem necessidade de penetração) durante a vida estiveram expostas à possibilidade de infecção pelo HPV e, possivelmente se infectaram. No entanto, a maioria das infecções por HPV é resolvida naturalmente por ação do sistema imunológico e são assintomáticas (nunca sabemos que as tivemos e não levam a câncer nem a verrugas).
Se a infecção é mais frequentemente assintomática, como podemos saber se a tivemos? Na maioria das vezes não saberemos (o sistema imune resolveu). Porém, em alguns casos a infecção pode evoluir para alterações celulares (que chamamos de atipias celulares e neoplasias intraepiteliais) e que podem ser observadas apenas ao fazer o exame preventivo (colpocitologia oncótica, preventivo ou Papanicolau). Essas alterações (lesões/neoplasias intraepiteliais) não são câncer, mas podem ser pré-cancerígenas e, devem ser sinais de alerta para investigação adicional (colposcopia e em alguns casos, biópsia).
É possível que nos reinfectemos mais de uma vez com o mesmo tipo de vírus HPV, pois a imunidade natural (aquela que nosso organismo desenvolve após uma infecção) neste caso não é eficaz. Já a imunidade causada por vacina é extremamente eficaz. Por isso a vacinação contra o HPV é necessária e salva vidas.
Para o contágio não é necessária penetração sexual. O contato da pele com a pele é suficiente, pois o HPV é atraído pelas células do colo do útero, mesmo que o contágio seja a partir do contado da pele da vulva. O uso de preservativo, por este motivo, não é 100% eficaz contra essa infecção, mas reduz a chance. A presença de lesões ou até mesmo microlesões (invisíveis a olho nu e imperceptíveis) na pele aumenta o risco de contágio, pois facilita a entrada do vírus.
O câncer de colo de útero é a quarta maior causa de mortalidade feminina por câncer no Brasil (excluindo câncer de pele não melanoma). Este tipo de câncer é a principal preocupação da infecção pelo HPV.
Você sabe como evitar a infecção pelo HPV? Sabe que tipos de câncer são causados por ele? Você está protegida contra o HPV e o câncer de colo de útero?
O principal fator de risco para o câncer de colo de útero é a infecção persistente pelo HPV - aquela que o sistema imune não conseguiu resolver em até 2 a 3 anos. O HPV é uma causa necessária para o desenvolvimento deste tipo de câncer.
Assim, para evitar o câncer de colo de útero devemos:
1 - Tomar a vacina contra o HPV se indicado o quanto antes e de preferência (mas não apenas) antes do primeiro contato sexual;
2 - Evitar múltiplas parcerias sexuais;
3 - Usar preservativo (externo ou interno - masculino ou feminino) durante toda a relação sexual;
4 - Não fumar;
5 - Melhorar a imunidade adotando bons hábitos de vida:
Prática de atividade física
Alimentação rica em frutas, legumes e verduras e excluindo alimentos industrializados e potencialmente carcinogênicos
Sono de qualidade
6 - Evitar o estresse: o estresse crônico prejudica o desempenho do sistema imunológico
7 - Fazer o preventivo/Papanicolau/colpocitologia de colo de útero na faixa etária e na frequência indicada por ginecologista.
Quais são as vacinas contra o HPV?
A vacina contra o HPV é feita com partículas (proteínas) virais - não contém o vírus em si.
Atualmente temos disponíveis no SUS a vacina quadrivalente e na rede privada (clínicas particulares de vacinação) as vacinas quadrivalente e nonavalente profiláticas. A vacina bivalente teve sua comercialização interrompida no Brasil em 2021.
No segundo semestre de 2023 chegou ao Brasil (ainda apenas disponível em clínicas particulares de vacinação, sem previsão de incorporação ao calendário de vacinação do SUS) a vacina nonavalente (que protege contra 9 tipos do vírus HPV responsáveis por câncer e verrugas). Essa vacina já tinha sido aprovada pela ANVISA e já estava disponível em diversos países do mundo.
Nos países com alta cobertura vacinal contra o HPV foi observado que a vacina é capaz de erradicar todos os tipos de câncer causados pelo HPV.
As vacinas são seguras e de eficácia comprovada ao longo dos anos de estudos.
A vacina contra o HPV foi criada na Austrália em 2006 e é um instrumento revolucionário na luta contra os cânceres induzidos pelo HPV e é inadmissível que nas próximas gerações de meninas e mulheres não tenhamos conseguido erradicar esses tipos de câncer.
E o DNA-HPV, é fundamental?
Recentemente houve uma mudança no protocolo nacional do SUS em relação ao rastreio do câncer de colo de útero. Até então o rastreio do câncer é feito com o preventivo no SUS. Porém, nos últimos anos houve uma tendência, devido a novos estudos científicos, a usar o teste de DNA-HPV para este rastreio.
Essa mudança ocorreu devido a estudos que mostraram que fazer o teste de HPV pode ser mais eficaz para prevenir o câncer de colo de útero (como estratégia populacional) do que o exame preventivo (também chamada de colpocitologia oncótica ou Papanicolau).
No preventivo o(a) médico(a) patologista avalia no microscópio as células do colo do útero em busca de lesões pré-cancerígenas.
O teste de HPV apenas avalia se o vírus está presente (ele pode estar presente causando lesão pré-cancerígena ou sem causar lesão pré-cancerígena). A presença especialmente de determinados tipos de HPV aumenta o risco de lesão pré-cancerígena e, consequentemente, de câncer, mas não quer dizer que o câncer vai acontecer (especialmente se mantivermos acompanhamento adequado).
Essa mudança de estratégia pode ser interessante a nível populacional na prevenção do câncer de colo de útero, porém é extremamente importante o aconselhamento antes do teste - isto é, orientação sobre o significado de um possível resultado positivo. O resultado positivo significa que o vírus está presente, não necessariamente causando lesão (para isso é necessário o preventivo e/ou a colposcopia).
Ter HPV (até mesmo os subtipos de alto risco para câncer) não quer dizer que a mulher terá câncer. Essa infecção é extremamente comum na população. Trata-se apenas de um sinal de que uma vigilância maior é necessária e devemos prosseguirmos na investigação - seja com colposcopia, seja com o preventivo em seguida.
Precisamos desmistificar e conversar amplamente sobre esse assunto para que o uso dessa estratégia não gere ansiedade excessiva e prejudicial às mulheres. Converse com sua(seu) médica(o)!
Busque informação e proteja-se!
Leituras adicionais:
https://www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/hpv#
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-e-numeros/mortalidade
Dra. Gisele Veiga Guimarães
Médica Ginecologista e Obstetra
CRM RJ 521128990
RQE 40088