Tudo que você precisa saber sobre DIU

O guia definitivo em 9 minutos de leitura com as principais dúvidas respondidas sobre esse excelente método para evitar gravidez.

CONTRACEPÇÃO

Gisele Veiga Guimarães

6/13/20259 min read

Quantos anos dura o DIU Mirena?

Em 2022 um estudo confirmou a eficácia do DIU Mirena por até 8 anos. Já era de conhecimento dos estudiosos da área que o efeito na prevenção de gravidez do Mirena funcionava por mais de 5 anos, que é o tempo determinado na bula brasileira para troca do DIU.

Essa é uma excelente notícia para as usuárias e futuras usuárias do método. A autorização para uso por 8 anos, porém, ainda não consta na bula do DIU Mirena no Brasil, então por enquanto a recomendação em bula permanece como antes (5 anos). Nos EUA, o FDA autoriza o uso por até 8 anos.

Para quais mulheres o DIU é indicado?

O DIU é indicado para mulheres que não desejam engravidar nos próximos 3-10 anos e não desejam, tenham dificuldade ou apresentem contraindicações para outros métodos como pílula, injeção, anel vaginal, adesivo e implante subdérmico.

Você conhece os principais tipos de DIU?

  • Mirena: dispositivo que mede cerca de 3 cm. Não contém o hormônio estrogênio (que está presente na maioria das pílulas anticoncepcionais). Contém apenas o hormônio levonorgestrel, que é semelhante à progesterona (que não causa trombose). Na maioria dos casos é colocado em consultório médico com ou sem o uso de anestesia local. Também pode ser colocado no centro cirúrgico sob sedação anestésica (de forma 100% indolor). Sua função principal não é inibir a ovulação e, portanto, não costuma afetar negativamente a libido. Na maioria dos casos o fluxo menstrual diminui e em algumas mulheres a menstruação é interrompida (sem que isso seja um problema).

  • Kyleena: tem tamanho discretamente menor que o Mirena e contém dose menor do hormônio levonorgestrel. Por ter menos hormônio que o Mirena tem menos influência sobre o fluxo menstrual, que costuma reduzir, mas apenas um pouco. A chance de interrupção da menstruação (amenorreia) é menor que com o uso do Mirena.

  • DIU de cobre: não contém hormônios. Atua pela liberação do cobre dentro da cavidade uterina, não permitindo a fecundação.

Como é colocado o DIU?

Na maioria dos casos o DIU é colocado no consultório médico com ou sem anestesia local. Também existe a opção de colocar o DIU no centro cirúrgico (internada) com anestesia realizada por médico(a) anestegiologista. Outra opção é colocar o DIU com auxílio de histeroscopia, garantindo o posicionamento correto no mesmo momento.

O procedimento de inserção do DIU no consultório demora apenas alguns minutos, sendo a dor bem tolerada na maioria dos casos. A disponibilidade de ultrassonografia no consultório torna o procedimento ainda mais seguro e dá tranquilidade de avaliar a localização correta logo após o procedimento.

É importante realizar uma ultrassonografia antes de colocar o DIU para avaliar o útero por dentro e uma nova ultrassonografia depois é imprescindível para determinação da localização do DIU.

Você conhece os benefícios do DIU?

Todos os métodos contraceptivos/métodos anticoncepcionais têm vantagens e desvantagens. Por isso a escolha do melhor método é individualizada e deve ser realizada após conversa detalhada entre médico(a) e paciente. Avaliamos contraindicações, demandas e interesses individuais de cada paciente durante essa escolha.

  • O efeito do DIU na prevenção da gravidez dura entre 3 e 10 anos, sem necessidade de tomadas diárias ou reaplicações, como ocorre com outros métodos. Não precisa lembrar de tomar comprimido, de aplicar injeção ou de trocar o adesivo ou anel vaginal.

  • Os diferentes tipos de DIU estão entre os métodos mais eficazes na prevenção da gravidez indesejada. O DIU fica atrás em eficácia apenas do Implanon - que é o método mais eficaz do mundo, superando inclusive a ligadura tubária.

  • Pode ser colocado no próprio consultório com ginecologista.

  • É reversível (pode ser retirado na consulta com ginecologista a qualquer momento caso o fio esteja visível).

  • O DIU de cobre é um método sem hormônios, o que é interessante para quem tem contraindicação ou não deseja utilizar hormônios.

  • O DIU hormonal (Mirena ou Kyleena) reduz cólicas menstruais e o fluxo menstrual. O DIU Mirena pode, em alguns casos, até suspender as menstruações, o que é muito interessante para algumas mulheres.

  • O Mirena também tem atua no tratamento de adenomiose e outras causas de sangramento aumentado.

  • O Mirena reduz o risco de hiperplasia endometrial (que é o crescimento excessivo do revestimento da parte de dentro do útero e que pode ocorrer na síndrome dos ovários policísticos e no climatério/menopausa), reduzindo o risco de câncer de endométrio.

  • O DIU (principalmente o de cobre) está associado a riscos mais baixos de câncer de colo de útero.


Colocar DIU doi?


Muitas mulheres deixam para depois a colocação do DIU mesmo após bastante pesquisa e informação sobre o método e após terem decidido que talvez esse seja o melhor método para elas. O medo da dor durante o procedimento é um impeditivo comum para muitas mulheres colocarem o DIU e garantirem anos de contracepção segura e eficaz.


Como é a dor para colocar o DIU para a maioria das mulheres

A dor durante a inserção do DIU varia muito de mulher para mulher.

Algumas mulheres não sentem quase nada, enquanto outras podem sentir bastante dor, optando pelo procedimento em centro cirúrgico com sedação realizada por médico(a) anestesista.

A maioria das mulheres tolera bem o procedimento, conseguindo fazer no consultório, podendo ser usada a anestesia do colo do útero com anestésico local aplicado pelo(a) próprio(a) ginecologista. O procedimento em si é extremamente rápido - a parte que pode gerar dor demora menos de 5 minutos - nada comparável, por exemplo, com a dor de um parto.

A dor costuma ser parecida com a de uma cólica menstrual intensa, porém geralmente dura apenas alguns segundos a minutos.

Fatores que influenciam na dor:

- Mulheres que já engravidaram tendem a sentir menos dor na inserção do DIU.

- O uso de anestésico local pode reduzir um pouco a dor (por outro lado, a aplicação do anestético pode ser desconfortável).

- Informação sobre como vai ser o procedimento - ter sido orientada pelo(a) médico(a) sobre exatamente quais são os momentos exatos em que pode haver desconforto e saber que vai ser rápido ajuda a tolerar o procedimento.

Pode haver cólicas logo após o procedimento persistindo por aproximadamente 1 semana. Essas cólicas normalmente são facilmente controláveis com medicações analgésicas comuns (dipirona e anti-inflamatórios).

Opções para reduzir a dor na colocação do DIU:

  • Anestesia local no colo do útero feita pelo(a) ginecologista (a maioria das mulheres tolera bem).

  • Sedação em centro cirúrgico feita por médico(a) anestesista (para as mulheres que já tentaram colocar no consultório e não conseguiram e para aquelas que não querem tentar por medo de sentir dor).

Benefícios do DIU - Eficácia e longa duração

O DIU é um método para mulheres que realmente não desejam engravidar nos próximos anos (é de alta eficácia e longa duração). O DIU de cobre tem efeito por 10 anos e o Mirena tem efeito por pelo menos 5 anos (conforme a bula brasileira), embora o FDA (EUA) já tenha liberado seu uso por 8 anos para efeito anticoncepcional.

Converse com seu(sua) médico(a) para compreender o procedimento para colocar o DIU, os riscos, os benefícios do método.

Existe preparo para colocar DIU?

Não existe um preparo específico para colocar DIU.

As recomendações são: ter feito ultrassonografia transvaginal antes (para afastar a possibilidade de alguma alteração no útero como pólipos, miomas, alterações da forma do útero), além de teste de gravidez (caso não esteja usando algum método contraceptivo confiável e tenha tido relações recentemente).

Tomar um remédio para a dor - indicado pelo(a) seu(sua) ginecologista - pouco antes do momento do procedimento (no consultório mesmo) pode ajudar na dor durante e após (pode haver cólica logo após colocar o DIU).

Posso colocar o DIU se eu estiver menstruada?

Não tem problema estar menstruada. Na verdade estar menstruada pode até ajudar a reduzir o incômodo durante a inserção do DIU, pois o colo está mais amolecido e dilatado.

Preciso de repouso após colocar o DIU?

Cada mulher e cada organismos são únicos. Algumas mulheres não têm queixa alguma logo após colocar o DIU, enquanto outras têm cólicas leves, não demandando repouso absoluto e conseguindo manter suas atividades habituais. No entanto, é necessário avaliar qual é o seu grau de esforço no cotidiano. O repouso pode ser indicado em caso de dor significativa (o que acontece na minoria dos casos).

Posso ter relação sexual logo após colocar o DIU?

Aqui avaliamos 2 questões: o desconforto que a relação sexual pode gerar e a garantia que temos de que o DIU está no lugar correto (o posicionamento correto é o que nos sinaliza proteção eficaz contra a gravidez em caso de relação não protegida com preservativo ou outro método).

Recomendo repouso moderado (evitar grandes esforços, mantendo atividades cotidianas), em caso de desconforto ou cólica após a colocação do DIU. Evitar relação sexual pode ser uma boa ideia para as mulheres que ainda estão sentindo desconforto. Na maioria dos casos esse desconforto se resolve em até 7 dias.

Como garantir que o DIU está no lugar certo?

Existem 2 formas: ultrassonografia transvaginal e histeroscopia.

O útero é um órgão formado por músculo e ele contrai de forma involuntária (sem nosso estímulo consciente). Essas contrações podem alterar o posicionamento do DIU e é por isso que é possível o DIU estar no local correto e, em um segundo momento, não estar mais. Isso não acontece na maioria dos casos, mas é uma possibilidade. Por isso é interessante realizar ultrassonografia transvaginal de forma rotineira (na ausência de queixas não é necessário repetir o exame mais que uma vez ao ano).

Logo após colocarmos o DIU podemos checar o posicionamento correto com ultrassonografia transvaginal. É interessante reavaliar esse posicionamento após o próximo fluxo menstrual ou após 30 dias (em caso de ausência de menstruação, o que pode acontecer com o uso do DIU Mirena).

Quando a ultrassonografia está disponível no consultório médico é possível sair do consultório já conhecendo o posicionamento do DIU, o que é bastante tranquilizador.

Outra forma de garantir localização correta do DIU é realizar o procedimento com auxílio da videohisteroscopia, checando o posicionamento logo após a inserção. A grande vantagem é que na eventualidade de o posicionamento não ser o ideal, a histeroscopia permite o reposicionamento no mesmo momento.

A histeroscopia pode ser realizada no consultório ou no centro cirúrgico (com internação hospitalar de curta duração), o que permite o uso de medicamentos sedativos realizada por médico(a) anestesista, garantindo ausência de dor durante todo o procedimento.

Não pode ou não quer usar hormônios? Mas e o DIU hormonal (Mirena e Kyleena)?


O DIU hormonal é uma das opções mais eficazes e seguras para contracepção. Seu hormônio, o levonorgestrel, atua praticamente apenas dentro do útero.


Por que muitas mulheres não querem usar hormônios?

O desejo de não usar métodos contraceptivos com hormônios vem principalmente dos efeitos colaterais causados pelas pílulas anticoncepcionais. O medo de ter trombose e de sofrer redução da libido por inibição da ovulação leva muitas mulheres a acreditar que devem fugir dos hormônios.

Como funciona o hormônio do DIU

As pílulas contêm hormônios que têm efeitos no corpo todo (o que chamamos de efeito sistêmico). O hormônio presente no DIU hormonal (Mirena ou Kyleena) atua dentro do útero (no endométrio) e a sua absorção para a corrente sanguínea e, portanto, para o corpo todo, é quase insignificante.

Qual é o efeito do hormônio do DIU hormonal?

O levonorgestrel é o hormônio do DIU. Ele é um progestágeno, ou seja, um hormônio semelhante à progesterona que nosso corpo produz naturalmente. O efeito deste hormônio sobre o endométrio na prática é reduzir o fluxo menstrual e reduzir as cólicas menstruais. Algumas mulheres chegam a ficar sem menstruar quando usam o DIU Mirena, o que é menos comum quando a escolha é pelo DIU Kyleena, que contém uma dose menor do levonorgestrel.

No caso do DIU Mirena (e menos com o Kyleena) em cerca de 20% dos ciclos menstruais (principalmente os 20% primeiros após a colocação do DIU), é possível que uma quantidade deste hormônio entre na circulação sanguínea, levando a um efeito "sistêmico", com inibição da ovulação. Conforme o tempo passa a concentração de levonorgestrel no DIU reduz, de modo que ocorre retorno natural às ovulações e ciclos normais da mulher.

Tenho história de trombose e me disseram que não posso usar hormônios - posso usar DIU hormonal?

O estrogênio é o principal responsável pelo aumento do risco de trombose, e não a progesterona/os progestágenos, como o levonorgestrel do DIU hormonal.

Os progestágenos como o levonorgestrel do DIU hormonal e a progesterona não estão contraindicados em mulheres com histórico de trombose já tratada, devendo ser evitados apenas no momento agudo da trombose, antes de ser iniciado o tratamento.

Essa é uma dúvida extremamente comum no dia a dia das especialidades que lidam com mulheres com histórico de trombose.

Você ainda tem dúvidas sobre o DIU?

Dra. Gisele Veiga Guimarães

Médica Ginecologista e Obstetra

CRM RJ 521128990

RQE 40088